Vitrine de ilusões
Por Taya Medeiros
Psicóloga (CRP 06/90460)
Ontem recebi por e-mail um texto excelente, que nem título tinha, mas cuja autoria era conferida à jornalista Martha Medeiros, por quem guardo profunda admiração. Bem, o tal texto abordava uma questão que julgo de grande relevância no que tange ao comportamento (e ao sentimento, por que não?) humanos: A tendência a achar que “a grama do vizinho é sempre mais verde”. Não, não se trata da inveja, propriamente dita, como se pode imaginar lendo a frase desavisadamente, mas da sensação de que tudo corre bem para todos os outros, de que na vida do outro as coisas ACONTECEM, e na nossa, simplesmente acontecem, assim, com menos luz, em branco e preto, com letra pequenina. Esse sentimento é muito mais intenso na adolescência, e costuma ser abrandado com a maturidade (Atenção, eu disse maturidade, e não idade, pois tem gente que passa pelos anos e não amadurece), mas, apesar disso, vez ou outra um pensamento assombra com a possibilidade de a nossa vida ser muito pouco interessante.
Quero traçar um paralelo disto com o “bum” da modernidade, febre entre pessoas de várias partes do mundo: Os sites de relacionamento.
Bom, eu já fiz parte de um destes sites e sei que há coisas bem interessantes lá, como comunidades para discussão de assuntos de interesse, e a possibilidade de procurar pessoas de quem perdemos o contato, que não vemos há muito tempo, mas, no que há além disto, vejamos: Você entra em um site, coloca uma foto sua, coloca sua ficha, sua descrição (!!!), aí vai adicionando fotos dos seus momentos, dos seus lugares, dos seus amores...e Comunidades, não só as que você realmente freqüenta, mas as cujo título você acha engraçado, ou curioso. E adiciona “amigos”, claro, também não só aqueles que são seus amigos, mas aquela pessoa do trabalho que “te achou” lá e você teve que adicionar, aquele colega de colégio que você nem lembra quem é, mas ele te pediu, então... Nossa, e por falar em pedir, tem outra parte bem intrigante: o convite para ser amigo! Ele chega com nomes tão estranhos como “solicitação de amizade”, mas não vem ao caso... E logo você está lá, como numa página de revista, descrito por si mesmo, com uma foto escolhida por você e recados públicos dos seus 8.567 “amigos”.
Admito que haja exceções ao que vou dizer, mas, racionalmente, será que este tipo de site não é uma forma de disputa sobre qual seria “a grama mais verde”? Ou, no mínimo, uma vitrine de ilusões, uma forma de tentar mostrar, até para si mesmo, o quanto a sua vida é interessante, o quanto você é bonito e feliz? Ou será que alguém admitiria algo realmente íntimo, como um real fracasso, dores, tombos, medos ou segredos num destes sites?
Respeito quem gosta, mas acredito que seus amigos de verdade sabem seu telefone e não precisam que você se descreva para saber quem você é, e que a sua grama, verde ou não, é muito interessante, justamente por ser como é.
Taya atende em psicoterapia na Clínica Sapiens, coordena o Grupo de apoio a Mulheres no Centro de Estudos Luz Divina, além de desenvolver trabalhos de integração do feminino através da Dança do ventre e grupos de leitura e reflexão.
Contato: (11) 7158-4755/4412-9999 ou tayamedeiros@uol.com.br
sábado, 6 de dezembro de 2008
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